quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Duodécimo
Dezembro,
o sol me abraça
e você percebe
que sou
escorregadio
como o verso
que se abstraí
Na calçada quente,
um vira-latas
late que o tiquetaque
dos relógios
sacrifica lentamente
homens e animais.
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Caldo de cana
Pelo cheiro do bagaço da cana,
com estalos de ximbras,
rolando em poeira de brigas,
e tempero na manga,
na velha colônia da Holanda,
aprendi a paquerar as meninas
e nadar nas águas findas,
nos dias de luto e carnavais,
sobre os ossos dos meus ancestrais.
Decrépita Usina Santa Terezinha,
eram apenas férias,
mas as tuas ruínas
parecem conter as primeiras
e últimas lembranças
dos bons tempos da minha infância.
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Oração do Dia dos Mortos
Samba da Mulher de Plástico
Não a culpo Maria
por ser tão dissimulada
e ambiguamente fria
Não a culpo Maria
por gostar de brega
e não ler poesia
Não a culpo Maria
por ser tão materialista
é comum hoje em dia
Não a culpo Maria
por encher a cara de álcool
pra poder cair na orgia
És fruto da apatia doméstica
das telenovelas
e amante da hipocrisia.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Anjo Caído
Sob a claridade de luzes afiadas
que ultrapassam o miocárdio
dos seres humanos e seres alados
atingindo lembranças degredadas
de histórias reais e inventadas
sinto-me como um anjo caído
profanando o efêmero paraíso
exibido pelo sadismo religioso
no seio do capitalismo mentiroso
que do mundo tolo arranca gritos.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Tablado
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Janela
domingo, 23 de agosto de 2009
Hermético
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Ausência
sexta-feira, 31 de julho de 2009
João-ninguém
nascido sob signo pusilânime
no ano da mais terrível
de todas as grandes secas
batizado com qualquer nome
sem ter tido amor de leite
ou mãe pelas tetas
somente a tirania do pai
que era um bêbado infame
criado com água e farinha
mendigando restos de pão
no calor do cotidiano brutal
de uma vida dura e espinhenta
banido da própria terra
e pela crueza da necessidade
abrasileirado sem compaixão
embolando na cidade grande.
sábado, 11 de julho de 2009
Transmutação
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Inocência Roubada
quinta-feira, 2 de julho de 2009
Memorare
segunda-feira, 29 de junho de 2009
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Blues dos Falsos Romances
Não tenho cicatrizes no corpo
tenho-as na alma tatuadas
cedo aprendi que a vida
parece com jogos de azar
e esconde veneno no riso
mentiroso de bocas amoladas
quando menos esperamos
fica mais fácil se enganar
certa vez conheci uma mulher
disfarçada em pele de devota
e entendi porque tais tipos
têm deixado o inferno lotado
na lama no fundo do poço
eu quase morri afogado
mas o Senhor teve piedade
e me deu outra chance
foi como se Ele dissesse:
“Siga e seja mais vigilante!”
o diabo guarda armadilhas
em falsos romances.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Noturnal
domingo, 14 de junho de 2009
Xeque-mate
Não há mistério,
nem cor de remorso
sobre as palavras
que não voltarei a dizer
nem sequer ossos
de meus sentimentos
que hoje foram
apropriadamente mortos
Jogo fora as passagens
para Pasárgada
e a possível amizade
com o Rei
Assim como o desejo
pela dama, aventura,
montaria em burro brabo
e cama
que nunca vou ter.
domingo, 7 de junho de 2009
Asas Flamejantes
Fugindo do cárcere
que junta os irmãos
do sangue ao tédio
do dia-a-dia
em queda livre
por delírio fui ferido
e por desengano perfurado
Cerrei meus olhos
no limiar que sucede
a percepção
da vila adormecida
e vesti roupas negras
diante dos estilhaços
de um espelho quebrado
Li pensamentos
e decifrei ilusões,
esqueci meu nome
e enfrentei a morte
nada será como antes
Além dos arames farpados
da realidade
eu quero o risco
de estar perto do sol
e voar com as minhas
asas flamejantes.
domingo, 31 de maio de 2009
Toada Íntima
domingo, 24 de maio de 2009
Ayahuasca
Pauperum spiriti est regnum coelorum
Os sinos tocam!
As badaladas, os trovões e a chuva, rasgam o entardecer.
A freira entra na igreja. Hábito molhado. Meio-riso baixo, abafado.
Ela senta no confessionário. O bispo irá ouvi-la, à antiga.
- O que houve minha filha?
A voz do prelado nunca lhe pareceu tão afeminada.
Numa tom de devoção afetada, ela diz satisfeita:
- Cometi pecados mundanos.
- Mas o pecado é humano, demasiadamente humano
- E agora, eu abomino profundamente a igreja.
- Minha filha, você é uma freira.
Ela continua:
- Dizem que somos o depósito de lixo da história e talvez seja mesmo verdade. Cometemos os mais terríveis e absurdos enganos.
- Não atentai contra a santa decência do clericalismo.
- Sempre demos as costas a ciência e ao que a filosofia ensina.
- Não insista minha menina!
- Sempre estivemos do lado mais conveniente e tapamos os ouvidos para os gritos dos inocentes.
- Os livros que tem lido estão lhe fazendo mal. Filha, o povo precisa dos nossos dogmas.
- As pessoas precisam permanecer dopadas? Limitadas aos cabrestos de concepções forjadas?
- Basta! Você está se perdendo em perigosas indagações.
Os trovões dançam assustadoramente nas nuvens, dando boas-vindas ao anoitecer. Ela chora e conclui a confissão:
- Quanto aos pecados mundanos: Eu tenho me encontrado com o padre recém ordenado... Decidimos abandonar a igreja para nos entregarmos ao amor.
O bispo estremece dentro do confessionário, levanta e grita com horror:
- HERESIA!
A ex-freira, também se ergue e diz triunfante:
- Não há abominação maior do que a pedofilia que você trancafia com suas vestes dentro da sacristia.
Então, ela arranca violentamente seu crucifixo do pescoço e joga-o aos pés do bispo. Rasga o hábito e saí correndo nua pelo corredor da igreja blasfemando entre risos.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Idealização
Soneto Cangaceiro
Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião do brilho morticínio
Comandou muitos cabras da peste, almas sem coração
E desmoralizou a macacada da volante policial no sertão
Esfregando nas regras da justiça as alpercatas do latrocínio
Foi do Padinho Ciço que veio a patente da guarda nacional
Pra enfrentar a Coluna Prestes no grande território cearense
Só resolveu fazer melhor uso da regalia de bom penitente
Pra amedrontar quem quer que fosse à ponta fria do punhal
Parecia dar ordem e lapada até na vegetação inclemente
Espalhou reinado escabroso na seca de sol incandescente
Acobertado pelos coiteiros que enchiam suas cartucheiras
O Capitão fazia explodir no céu a munição do rifle potente
Amava Maria que era mulher bonita e de sangue quente
Vaidoso para se deixar filmar e fotografar com sua cabroeira.
sábado, 9 de maio de 2009
Na mesa do bar
Na mesa do bar tinha uma dose de uísque
tinha uma dose de uísque na mesa do bar
tinha uma dose de uísque
Na mesa do bar tinha uma dose de uísque.
Sempre me lembrarei desse detalhe
nas retinas de minha vida tão solitária.
Sempre me lembrarei que na mesa do bar
tinha uma dose de uísque
tinha uma dose de uísque na mesa do bar
na mesa do bar tinha uma dose de uísque.
sexta-feira, 1 de maio de 2009
Cicatriz
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Luz Vermelha
domingo, 19 de abril de 2009
Busca
Destino
18h15, 30 de novembro de 2007
estou às margens do Rio Tamisa
a Inglaterra nunca pareceu tão fria
07h21, 09 de março de 1992
Bananeiras,PB. Ela entra na classe
parece intocável, de tão linda
10h15, 05 de maio de 1999
Ela está casando na Igreja Matriz
o felizardo é o meu maior desafeto
tenho que esquecê-la de uma vez
21h09, 15 de dezembro de 2007
Eles discutem e chegam à conclusão
que a separação é a melhor opção
23h20, 23 de maio de 2008
Ela dorme ao meu lado
e a observo com satisfação.
sexta-feira, 17 de abril de 2009
Ao meu velho
Quando nasci,
chorei
sorri
estavas aqui
como uma
antiga árvore
observando
os frutos
sob sua
sombra
Enquanto crescia,
caia
levantava
ainda estavas aqui
como uma
antiga árvore
observando
os frutos
sob sua
sombra
Hoje, meu avô
tu abandonas
a matéria perecível
que vira pó
e caminhas através
da eternidade
Enquanto sua sombra
permanecerá aqui.
Antonio Cândido do Nascimento, 12/06/1915 – 10/04/2009.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Ser ou não ser
Vês além das sombras
na caverna,
mentiras dos jornais
e comerciais da TV?
Não é postiço
o teu riso cordial,
sentimentalismo,
sacra devoção
ou
pesar exibido
do velório ao
funeral?
Escutas algo além
do lixo
nos rádios,
mentiras dos jornais
e comerciais da TV?
És o que queres
ou
o que querem?
O que tu consomes
e o que
te consome?
O que é real
no murmúrio
do teu mundo?
sábado, 28 de março de 2009
Mate-me, por favor
monólogo do último ato
(Aproxima-se do espelho. Acendem-se as luzes opacas)
Eu sou o seu lado negro
A transgressão
Sua ausência de medo
A obsessão e hipocrisia
Eu sou sua embriaguez
O impulso
Nublando sua lucidez
E sua submissão desmedida
Eu sou o ateu e demagogo
Sem compaixão
Sufocando o beato fervoroso
O terror das famílias
Eu sou sua maldição
A violência
O sangue em suas mãos
E o dedo frio no gatilho
Eu sou o seu desamor
A auto-sabotagem
O causador da dor
Atentando contra sua vida
Eu sou sua versão bestial
O vazio no seu coração
Seu vínculo ao mal
Mate-me, por favor.
(Aproxima-se do espelho. Acendem-se as luzes opacas)
Eu sou o seu lado negro
A transgressão
Sua ausência de medo
A obsessão e hipocrisia
Eu sou sua embriaguez
O impulso
Nublando sua lucidez
E sua submissão desmedida
Eu sou o ateu e demagogo
Sem compaixão
Sufocando o beato fervoroso
O terror das famílias
Eu sou sua maldição
A violência
O sangue em suas mãos
E o dedo frio no gatilho
Eu sou o seu desamor
A auto-sabotagem
O causador da dor
Atentando contra sua vida
Eu sou sua versão bestial
O vazio no seu coração
Seu vínculo ao mal
Mate-me, por favor.
(Disparo. Espelho quebrado. As luzes são apagadas)
Baixa o pano sobre o fim do último ato
Baixa o pano sobre o fim do último ato
segunda-feira, 23 de março de 2009
A Balada Dos Filhos Da Noite
Claro,
os puros dormem
em seus quartos doces
e nas ruas perambulam
os filhos da noite
fazendo o que melhor sabem
e podem fazer
A noite protege
as suas enigmáticos crias
que escancaram
os portões da vida
zombando audaciosamente
das regras e sem medo
de morrer
Testemunharam as lágrimas
sob a maquiagem dos palhaços
Escutaram blasfêmias
das línguas beatas
E Conhecem bem
o rumo para todas
as encruzilhada
Ao menos sabem
quem são
enquanto os puros que dormem,
não.
domingo, 22 de março de 2009
Um dia, sem querer
Um dia, sem querer
você lembrará de mim
quando sintonizar o rádio
e casualmente,
aquela música tocar
lembrará das suas chaves
mergulhando na minha direção
e dos passos apressados
ao teu abraço
lembrará do enorme prazer
de estarmos a sós
e nossos olhos pontilhando
incontáveis astros no espaço
Um dia, sem querer
você lembrará de mim
sendo o mel dos teus sonhos
e o fel da tua insônia
até depois daquela música acabar.
Guerra Civil
sábado, 21 de março de 2009
Sete segundos
segunda-feira, 16 de março de 2009
Invasão
Alguém
entrou no meu quarto,
caminhou pelos lados,
ligou o rádio
e lançou meus dados
de números virados
Em seguida,
entristeceu
Alguém
abriu o cadeado
do meu baú,
onde guardava
baralho cigano,
coisas que não precisava
e um mapa
para lugar nenhum
Alguém
vestiu minhas roupas,
calçou meus sapatos,
apagou a luz,
tateou o escuro,
deu de cara
no meu mundo,
chorou por meio segundo
e partiu.
domingo, 8 de março de 2009
O Trigésimo Salto
Encontro os doze cravos
guardados no fundo do alforje
e se cheguei até aqui inteiro
é porque tenho a louca sorte
dos filhos de dezembro
Meus verdes anos
entre a Rua Amazonas
e a Usina Santa Terezinha
demoraram pra amadurecer
Menino melancólico
no topo da árvore
abraçando cedo a solidão
Menino traquinas
derrubando borrachas
para ver as saias das meninas
Comportamentos antagônicos
como faces de uma moeda
Beijando sentimentos platônicos
Cresci na rota dos aventureiros
Engolindo os raios do sol
e correndo no escuro da noite
Deus me deu o misterioso dom
de beber veneno e cuspir água benta
Por isso olho sem nenhum medo
no fundo dos olhos do capeta,
cortejando o pecado e a inocência
Deslizo sob doses incandescentes
imaginando curvas nas nuvens
que desenho além do horizonte,
sem qualquer traço de prudência
Degolando a dureza da saudade
perto de mim e longe de tudo
Criando versos cínicos e absurdos
Abrigando sonhos dentro do peito
Para dar meu trigésimo salto
Acordado no mar do meu leito.
Corra Criança
Corra criança
por dentre a chuva
Não tema escorregar
no calçamento molhado
Pule (saltite pela lama)
e deixe o medo de lado
Grite sua infância
sem nenhum acanhamento
Passe as mãos nas árvores
e lamba os dedos
Não ligue pro uniforme escolar
engomado
Corra criança,
pois ser adulto
é muito chato
Chute a água suja
para molhar os sapatos
Você pode rir e ser o que quiser
como quiser
Até virar este mundo louco
de cabeça pra baixo
Corra criança e sonhe!
Só não fique aí parado.
por dentre a chuva
Não tema escorregar
no calçamento molhado
Pule (saltite pela lama)
e deixe o medo de lado
Grite sua infância
sem nenhum acanhamento
Passe as mãos nas árvores
e lamba os dedos
Não ligue pro uniforme escolar
engomado
Corra criança,
pois ser adulto
é muito chato
Chute a água suja
para molhar os sapatos
Você pode rir e ser o que quiser
como quiser
Até virar este mundo louco
de cabeça pra baixo
Corra criança e sonhe!
Só não fique aí parado.
Tarde fria de verão
Improvisava vaporoso frio junino
naquele verão cinza de janeiro,
em que o sol se evadia
em que o sol se evadia
por trás da visualidade nevoenta
Eu procurava atribuir imagens
Eu procurava atribuir imagens
naquelas espessuras de chuva
Enxergava figuras calmas, angelicais,
Enxergava figuras calmas, angelicais,
melancólicas... Multiformes
“Quantas vidas um homem pode ter numa única existência?”
Perguntava-me, tropeçando
“Quantas vidas um homem pode ter numa única existência?”
Perguntava-me, tropeçando
em minúsculos grãos de areia
Aquela imagem ainda tatuada
Aquela imagem ainda tatuada
nas minhas retinas dilatadas
aquela voz ainda tabelava
aquela voz ainda tabelava
em todos os lados dos meus tímpanos
Caía a chuva esparsa que escorria
Caía a chuva esparsa que escorria
abundantemente em minha face
Já que não conseguia chorar,
Já que não conseguia chorar,
as nuvens faziam isso por mim.
sábado, 7 de março de 2009
Novena
Solitaire
Epifania
Deixo a luz lunar lamber meu rosto
e acendo a primeira das sete velas
antes de despertar mais uma vez
Estive no centro e pelas margens
perto, mas longe do seu alcance
Quis fazer certo o que é errado
agora quero não errar no certo
Tive um pesadelo onde sofria
e um sonho onde você sorria
Acredite, eu ainda não acordei
As lembranças são enganosas
mas não tenha receio de nada
O anjo do esquecimento virá
Acendo a última das sete velas
Deixo a luz lunar lamber meu rosto.
Olhos D'água
Eu vesti meu melhor sorriso
e minhas luvas de estimação
Para cumprimentar pessoas
que para mim não significam nada
Onde você estava, olhos d’água?
Gargarejei e me embriaguei
e causei prejuízos à sua reputação
Enquanto ouvi a marcha dos tolos
e dancei de roupa encharcada
O que você ouviu olhos d’água?
Arranquei todas as figuras suspensas
do meu quadro de ilusão
E estive a meia-dúzia de passos
de ter a minha vida sepultada
Por que não estava comigo, olhos d’água?
Existem quase sete bilhões de pessoas
nesse velho mundo cão
Que nunca vão ler nenhuma
das minhas palavras dilaceradas
Você leu alguma delas, olhos d’água?
Não percebe que apenas mendigo
um pouco de atenção?
Não, você nada vê,
quando está com os olhos
cheios de lágrimas.
Indagações Siderais
Criança, dependurado nos galhos
na árvore em frente da minha casa
olhando a infinidade das estrelas
eu viajava na luz, em veloz imaginação:
De onde viemos e pra aonde vamos?
e se em algumas daquelas constelações
existissem inteligências mais evoluídas
que um dia,aqui, contribuíram à vida?
Minha mente navegava através do espaço
em longínquas e ingênuas indagações siderais.
Ouvindo os Reclames do Diabo no Velho Bar da Encruzilhada
Não era noite de verão, mas foi num sonho quente,
que conduzi cegos através de campos minados nas ruas,
até o bar da encruzilhada iluminada pela luz fria da lua,
onde encontrei e sentei com Lúcifer para tomarmos uma doses.
Inspirado, Ele tocou velhas canções endiabradas no seu violão,
acompanhado pelo coral dos homens sem visão e gentis.
Ouvi atentamente, cada frase compassada por solos manhosos.
Em pé na mesa, bati palmas, curtindo os baiões e os blues mefistólicos,
dançando ao lado, uma gata de córneas douradas, decotada...
Provocante e sexy, ela recitou versos perversos dedicados ao diabo.
Após sua apresentação Belzebu voltou à mesa parecendo preocupado.
Convidou a garota maliciosamente para ficar sentada ao nosso lado.
Eu, curioso, perguntei-lhe qual sua relação com tanto caos e destruição,
desigualdade, fome, miséria e todas as mazelas que nos assolam.
A resposta veio num reclame quase mudo, entre dentes crestados:
- Meu chapa, Eu estou cansado dessas coisas e quero aposentadoria.
O problema está no próprio homem e nas coisas que ele cria.
Não sou de todo culpado e nunca deixaram isso devidamente claro.
Calou por meio minuto, jogou para cima a fumaça do bazeado pra dizer:
- Garanto que boa parte do dolo é dessa dama sentada conosco,
Permita apresentá-la: Caro amigo, essa é a Intolerância de sobrenome
Ganância e que presta serviços usando o pseudônimo de Miss Vaidade.
Desde a aurora dos tempos somos casados e ela vem abusando da humanidade,
Manipulou a verdade, assim como também sabotou a religião com dogmas,
capitalizou a sorte nos pecados e fez dos cifrões o alimento da insanidade.
Estou te confessando isso e digo ainda que se não fosse a “Lei de Deus”,
juro a você que Eu já tinha me divorciado e encerrado esse compromisso.
Acordei meio tonto e muito suado, sei que deve ter sido por causa do uísque e do calor que esbaldavam voluptuosidade por todos os lados daquele lugar refinado.
A Igreja inventou o inferno, Dante pintou o cenário e quem crê nisso tudo é um otário.
domingo, 15 de fevereiro de 2009
A lágrima do Pierrot
Insone
sábado, 14 de fevereiro de 2009
Ela ergue os braços e dança
Ela ergue os braços e dança
sensual,visceral, carnalmente
alheia ao abismo cavado por seus passos
sem querer enxergar a silhueta da realidade
expondo intimidade num esgoto a céu aberto
espalhando lama em quem tiver por perto
Ela ergue os braços e dança
sensual,visceral, carnalmente
equilibrada na corda-bamba da grana fácil
perdida,alienada no labirinto das ilusões
fantasiando romances baseados em tolas canções
que fazem a trilha sonora do seu mundo de plástico
Ela ergue os braços e dança
sensual,visceral, carnalmente
rindo de satisfação no meio da fumaça
fazendo pouco diante da própria desgraça
se divertindo nas páginas de sonhos decadentes
descalça dando passos sobre brasas incandescentes
Ela ergue os braços e dança
sensual,visceral, carnalmente
murmurando provocações para um homem qualquer
realmente disposta a fazer qualquer coisa que ele quiser
a entregar seu corpo as garras das paixões efêmeras
e viver aventuras que acabam em camas grandes ou pequenas
na rotina dos esquemas, vícios e emoções de uma zona boêmia.
Ode ao amigo poeta Cezar Sturba
Foi numa noite ancestral
que caminhamos a cinco palmos do chão
que caminhamos a cinco palmos do chão
Foi numa noite interminável
que acendemos velas com as pontas dos dedos
que acendemos velas com as pontas dos dedos
Cezar já havia cavalgado cinco mil milhas
de dentro para fora de si
de dentro para fora de si
E as respostas sopravam no vento
enchendo nossos copos de entusiasmo
enchendo nossos copos de entusiasmo
As cicatrizes das velhas correntes
que aprisionavam nossas percepções
que aprisionavam nossas percepções
ainda ardiam nos nossos pulsos
marcados pelas amarras da ordem capital
marcados pelas amarras da ordem capital
Ele gritou e blasfemou e abençoou
e tão grande berro sóbrio ecoou etilicamente
e tão grande berro sóbrio ecoou etilicamente
Meu amigo de profundidade oceânica,
que a chama da inquietude criativa
que a chama da inquietude criativa
em nome da devota experimentação,
permaneça acesa em teus miolos inquietos.
permaneça acesa em teus miolos inquietos.
Assinar:
Postagens (Atom)